
Você está acompanhando a batalha de titãs no mercado em formação de carros autônomos? Esforça-se por monitorar as idas e vindas das empresas de tecnologia e das fabricantes de automóveis? Então, registre aí o último lance (e que lance!): a Ford anunciou investimento de US$ 1 bilhão, nos próximos cinco anos, na startup recém-criada, Argo AI. A empresa é formada por engenheiros e especialistas em robótica, ex-alunos do Centro de Engenharia de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, referência na área de inteligência artificial e na tecnologia de direção autônoma. Um dos sócios da Argo AI, Brian Salesky, integrou no passado a equipe de veículos autônomos da Google. O outro sócio, Peter Rander, trabalhou com a Uber, também com veículos autônomos.
Com o novo lance, a Ford explicita a lacuna de conhecimento que lhe faltava para cumprir a sua promessa de colocar uma frota de carros autônomos nas ruas em 2021. Entendeu que precisava de ajuda com os algoritmos. Mas mostrou conhecer a sua força quando o assunto envolve carro. Assim, dividindo as áreas de competências, a Argo AI ficará responsável pelo sistema de direção virtual, o ´cérebro` de todo o sistema. A Ford cuidará do resto: plataforma de hardware, integração de sistemas e fabricação e design interior e exterior do veículo autônomo, cuidando também da gestão de políticas reguladoras.
O arranjo entre a Ford e a Argo AI é diferente do que se tem visto até então e, a meu ver, trata-se de um lance que acerta em cheio na questão fundamental: como atrair e reter talentos em um contexto de players ´velozes e furiosos`. Eis a solução da empresa: a Ford será acionista majoritária da Argo AI, mas o restante das ações será de propriedade dos cofundadores Bryan e Peter e da sua equipe, que será reforçada por um contingente de engenheiros de software da Ford. Eles sairão da empresa e passarão a constar da folha de pagamentos da Argo AI. A previsão é que, até o final de 2017, a Argo AI conte com uma equipe formada por 200 profissionais.
“Há uma grande disputa por talentos”, disse o presidente-executivo da Ford, Mark Fields, explicando que a Argo AI irá operar como uma subsidiária independente da Ford. “Teremos a maioria das ações, mas daremos uma fatia significativa para Bryan e Peter e para os demais funcionários, para que possam ser competitivos em relação às demais startups atuantes na área”. A importância de recompensar engenheiros de ambas as empresas, como uma equipe foi ressaltada durante o anúncio do investimento. Quanto vale o patrimônio? Isso vai depender de como a empresa será valorizada no caso de uma compra futura ou oferta de ações. Mas, convenhamos, foi um belo lance para atrair e reter os melhores especialistas no mercado de software e robótica.
Dada a quantidade elevada de eventos que podem ocorrer durante o deslocamento de um veículo, levando a um cenário de alta complexidade, a Argo AI está apostando na inteligência artificial. Cria robôs que não possuem respostas para todas as circunstâncias, mas que são capazes de reagir, fornecendo respostas próprias para situações inusitadas.
A Ford não é a única interessada em inteligência artificial. Em 2016, a General Motors adquiriu a Cruise. Uber caçou dezenas de pesquisadores da Carnegie Mellon para montar equipe própria. Mas com o novo lance, a Ford certamente entrou pesado no jogo, mostrando as suas garras. Está, agora, mais perto de cumprir a sua promessa de reformar o mundo do transporte, ainda neste início de século.
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